Resenha: A Invenção das Asas – Sue Monk Kidd

Livro: A Invenção das Asas
Autor(a): Sue Monk Kidd
Editora: Paralela
Páginas: 328
Ano: 2014
Sinopse: Em sua terceira obra, Sue Monk Kidd, cujo primeiro livro ficou por mais de cem semanas na lista de mais vendidos do New York Times, conta a história de duas mulheres do século XIX que enfrentam preconceitos da sociedade em busca da liberdade. Sue Monk Kidd apresenta uma obra-prima de esperança, ousadia e busca pela liberdade. Inspirado pela figura histórica de Sarah Grimke, o romance começa no 11º aniversário da menina, quando é presenteada com uma escrava: Hetty “Encrenca” Grimke, que tem apenas dez anos. Acompanhamos a jornada das duas ao longo dos 35 anos seguintes. Ambas desejam uma vida própria e juntas questionam as regras da sociedade em que vivem.



Um dos melhores livros que li esse ano, A Invenção das Asas conta a incrível história de Sarah Grimké e Hetty “Encrenca”. Sarah, uma garota de família escravocrata da alta sociedade de Charleston, que sonhava em ser advogada no início do século XIX, uma época em que mulheres não estudavam. E Hetty, uma escrava que foi dada a Sarah em seu 11° aniversário como dama de companhia. A história do livro narra, ao longo de 35 anos, a trajetória de duas mulheres que questionavam as regras da sociedade em que viviam, e que buscavam criar suas próprias asas.

A narrativa do livro é alternada entre as duas personagens, e podemos acompanhar com detalhes a vida tão diferente de duas mulheres que lutaram pelo mesmo objetivo: Liberdade. Sarah desde nova quis se tornar uma grande advogada, inspirado em seu pai, um juiz de grande prestígio. Ela vivia em uma época onde a única preocupação de uma mulher era ter um bom casamento e filhos, mas Sarah desde nova seguia o sentido contrário determinado pela sociedade e sempre se preocupou muito com questões abolicionistas, feministas e de igualdade social. 

“Naturalmente, eu sabia que não havia advogadas. Para uma mulher, nada existia além da esfera doméstica e aquelas florzinhas gravadas em caderno de arte. Uma mulher aspirar ser advogada – bem, possivelmente, seria o fim do mundo. Mas uma semente se tornava uma árvore, não?” – Página 25 (Sarah)

Encrenca desde nova foi alimentada por sua mãe Charlotte com histórias africanas sobre os negros e a liberdade. Ela sempre foi bem ciente do que não poderia fazer por ser uma escrava, mas sempre buscava burlar as regras impostas, a se rebelar como pode, e a criar as suas asas mesmo que aos poucos. A vida dela se cruza com a de Sarah Grimké quando, no aniversário de 11 anos de Sarah, Hetty “Encrenca” é dada de presente como dama de companhia. Sarah tentou recusar o “presente”, e chegou a escrever uma carta libertando Hetty, mas que de nada adiantou. E foi uma das primeiras vezes que ela percebeu o quanto não tinha voz alguma e que decidiu não só ser amiga de Hetty, mas também de libertar a escrava da única forma que podia: A ensinando a ler, o que era contra a lei.

“O barulho estava na sua lista de pecados dos escravos, que nós sabíamos de cor. Número um: roubar. Número dois: desobedecer. Número três: preguiça. Número quatro: barulho. Um escravo devia ser como o Espírito Santo: não se vê, não ouve, mas está sempre por perto, a postos.” – Página 12. (Encrenca)

Durante a leitura acompanhamos as lutas de ambas as personagens, e tudo o que tiveram de enfrentar ao longo dos anos, desde crianças. Com uma narrativa tocante e sensível aos fatos, nos comovemos com a narrativa pelos olhos de Hetty, nos mostrando com detalhes o sofrimento, a dor, as humilhações que os escravos passavam. E acompanhamos as lutas de Sarah, a sua busca na descoberta de como mudar sua realidade, tentando encontrar o seu caminho. Durante a leitura torcemos por sua vitória ao tentar aos poucos mudar aquela sociedade e buscando ter voz. Coisa que ela não fez sozinha, pois teve ajuda de sua irmã mais nova, Angelina (Nina), que compartilhou e foi inspirada por seus objetivos de vida.

“Ela estava presa como eu, mas presa por sua mente, pela mente das pessoas em volta dela, não por lei. Na igreja africana, Sr. Vesey dizia: “Cuidado, você pode ser escravizado duas vezes, uma pelo seu corpo e uma vez pela mente.” Tentei dizer isso a ela. Falei: “Meu corpo pode ser escravo, mas não minha mente. Pra você é o contrário.” – Página 178 (Encrenca) 

Me surpreendi com a nota da autora ao terminar a leitura do livro, pois descobri que Sarah e Angelina Grimké realmente existiram! As irmãs foram as primeiras agentes femininas abolicionistas e umas das primeiras entre as importantes pensadoras feministas americanas. Sarah foi a primeira mulher nos Estados Unidos a escrever um manifesto feminista abrangente, e Angelina foi a primeira mulher a falar diante de um conselho legislativo. A autora conta a jornada dessas mulheres misturando fatos reais com uma boa dose de ficção, e foi realmente incrível acompanhar todas as lutas e conquistas das personagens desse livro. 

A Invenção das Asas faz com que o leitor mergulhe em outra época, e sinta tudo o que as personagens sentiram durante a narrativa dos fatos, que é rica e detalhada. Uma história com personagens de muita coragem, mulheres heroínas que lutaram por voz, e que é impossível não admirá-las! O livro é cheio de acontecimentos, tem uma história ampla sobre a trajetória de cada uma, contém vários outros personagens que não mencionei e algumas reviravoltas. Seria impossível contar tudo isso em uma resenha, por isso, não deixem de ler. É um livro realmente marcante. Leitura mais do que recomendada! 

“(...) E me surpreendi, de repente, com a minha vida. Como tinha se tornado, tão diferente do que imaginara. A filha do juiz John Grimké – patriota sulista, dono de escravos, aristocrata – vivendo em uma austera casa do norte, solteira, Quaker, abolicionista.” – Página 259 (Sarah)










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